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Aramis

Plácido Domingo graças ao Banco Real estará no Paiol

Quando Paulo Wendt (1914-1967), nome que ficou dentro da vida noturna de Curitiba como dono de uma rede de boites e restaurantes a partir da Marrocos, na Praça Carlos Gomes (*), [preocupado] em melhorar sua imagem atingida por acusações de favorecer o lenocínio classe "a" decidiu não apenas restringir as suas sofisticadas casas noturnas (que incluíam além da "Marrocos", "Tropical", "Cadiz" durante algum tempo e outros) os bons shows que bancava na Curitiba dos [anos] 50 (**), não teve dúvidas: investiu alguns milhões para uma tempestade de óperas e operetas, com nomes nacionais, que por uma semana ocuparam as improvisadas dependências do então chamado "Guairão" - que sem infra-estrutura, bancos de madeira [substituindo] poltronas e mesmo ausência de camarins, nem por isto deixaram de ter lotações quase que completa. Afinal, para os curitibanos, da elite germano-brasileira que freqüentava os concertos do Concórdia e os descendentes de italianos que se espalhavam por clubes como Dante Alighieri, Garibaldi e outras sociedades, não deixava de ser um acontecimento. xxx No dia em que se pesquisar com seriedade a história do espetáculo em Curitiba, este episódio deve ser aprofundado, inclusive no item comportamental. O interesse pelo chamado bel-canto sempre existiu - o que sempre faltou foram espetáculos e bons espaços. Passados 400 anos, hoje as produções operísticas montadas (em pesados custos) pela Fundação Teatro Guaíra - e que tiveram um desenvolvimento regular a partir da sempre lembrada administração Constantino Viaro (que, ironicamente, sempre esteve mais ligado as artes plásticas do que a paixão pela ópera) vem registrando um público cada vez maior, que somente se queixa da pequena extensão das temporadas, impedindo que milhares de interessados consigam ingressos (geralmente a preços populares) xxx O interesse pela ópera só tem crescido. Dos paleolíticos 78 rpm a sofisticação de CD, vídeo e disco-laser (este vendidos ainda por prósperos "piratas" que atuam no mercado, para suprir a ausência do cópias originais) tem um público de algum poder aquisitivo, muitos deles que se reúnem em suas mansões ou apartamentos, duplex e triplex, para curtir as exclusividades que adquirem. Gravadoras como Sony, Polygram e BMG, entre outras, ampliam seus catálogos - não só em CDs (simples, duplos e triplos), além de lançamentos em vídeo, cujos preços não afastam um público classe "A". Mesmo faixas de menor poder aquisitivo tem seu interesse ampliado, lotando as temporadas do Guaíra e buscando edições mais modestas em discos - além dos filmes inspirados em óperas, que realizadores como os europeus vêm realizando. Ciclos em vídeos, patrocinados especialmente pelo Goethe Institut, também atraem bom público. Enfim, mesmo com todas suas limitações, a ópera - e gêneros aproximados - encontram um mercado próspero. xxx Portanto, não surpreende que o Banco Real, dento de um programa de extensão cultural, inicie em Curitiba o projeto "Clássicos em Vídeo Laser", abrindo no próximo dia 7 (Teatro do Paiol, 18h20), com "Tosca" de Gianoni Puccini (1858-1924), inspirado em fatos reais ocorridos em Roma em 1800 e que teve sua estréia, um século depois, no Teatro Constanzi, em Roma. A escolha desta ópera para inaugurar o programa não poderia ser melhor: há 3 anos, foi montada em Curitiba, com direção de Marcelo Marchioro e regência do maestro Alceu Bocchino (temporada no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto), entre os idas 18 a 21 de outubro de 1989), tendo nos papéis centrais Neyde Thomas, Ivo Lessa, Rui Novello, Deborah Oliveira entre outros. Marcelo, 40 anos que vem alternando seus trabalhos entre óperas, peças e traduções (já dirigiu também "O Barbeiro de Sevilha" e, recentemente, "Dom Casmurro", no Municipal, em São Paulo), foi convidado para fazer os comentários didáticos em relação a esta apresentação. xxx Entre mais de 20 gravações importantes de "Tosca", com diferentes intérpretes, e que terá apresentação com auspícios do Banco Real, é um recente registro feito em CD/disco laser, com Plácido Domingo (tenor), Hildegard Behrena (soprano), Cornell MacNeill (barítono) Italo Tajo (baixo), coro e orquestra do Metropolitano Ópera, sob regência de Giuseppe Sinopoli e supervisão de Franco Zeffirelli, com direção de 127 minutos. O projeto "Os Clássicos em Vídeo Laser" - alternando óperas e concertos sinfônicos - foi iniciado no Rio e São Paulo, estendendo-se agora a Curitiba e Belo Horizonte. Totalmente de iniciativa do Banco Real - ou seja, a Fundação Cultural não tem (felizmente) a menor participação - possibilitará que o público interessado, gratuitamente, não só conheça as mais perfeitas produções através de uma tecnologia (vídeo laser) ainda pouco conhecida do país (em Curitiba, só alguns bilionários apaixonados por música é possuem este equipamento) que traz a grande vantagem de um equipamento com definição de imagem de 425 linhas - contra as 240 do vídeo comum - o que garante um resultado excelente em termos de nitidez, isto tudo aliado a um som com a mesma qualidade de um disc-laser. A ópera será projetada em telão mas para tanto o ideal é que haja índice zero de penetração de luz, com o som stéreo de caixas de alta potência, criando um ambiente mais próximo de uma apresentação ao vivo. Para evitar que a distribuição de ingressos, caso fique a critério da FCC, tenha problemas, o próprio Banco, em suas agências (Rua João Negrão, 1067 e Emiliano Perneta, 2670) está coordenando também esta função. xxx Notas (*) A boite Marrocos alguns meses após Paulo Wendt ter ali sido assassinado por um [freguês]; seu irmão, "Amarelinho", inabilidoso, provocou problemas e após agredir, em agosto de 1966, o ator Jardel Filho, que estava em Curitiba na temporada de "O Sr. Puntila e Seu Criado Matt" de Brecht - que ali foi, uma noite e acabou agredido, a casa foi definitivamente fechada. Hoje, ali funciona o "Bilhar 21", ponto de encontro de alguns artistas de teatros e profissionais do jôgo. (**Paulo Wendt contratava bons artistas. Breno Sauer (hoje morando nos EUA) e seu quinteto, aqui residiram por mais de 2 anos, trabalhando no Marrocos, trazendo um som moderno, bossa novista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
03/07/1992

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