Papai Noel, um ônibus e um casal apaixonado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de janeiro de 1987
Nas mãos de mestres como Rubem Braga ou Fernando Sabino, seria um tema para uma crônica antológica, daquelas de figurar obrigatoriamente em antologias de Natal. Como somos apenas um repórter, contamos a história para que a imaginação criadora dos cronistas ou, por que não, dramaturgos, a transformem um dia numa peça literária ou uma cena em palco.
23 de dezembro, 15 horas. Christina do Rocio e Gilberto Gonçalves, estudantes de arquitetura, noivos e apaixonados, deixam o seu trabalho no escritório da C.R. Almeida e apanham o ônibus da linha Vicente Machado. O veículo está lotado, apesar da hora não ser do rush. Algumas quadras adiante, entra no veículo um Papai Noel. Daqueles Papai Noel ao estilo europeu: roupas vermelhas, barbas brancas - que faz o desgraçado que veste a fantasia suar como um condenado.
O Papai Noel é recebido com frieza. Alguém comenta que ladrões estão usando roupas do Bom Velhinho para praticarem assaltos. O medo começa a se notar nas fisionomias de muitos passageiros. A cada parada, o veículo vai se esvaziando.
Sentados no fundo, Christina e Gilberto, apaixonados e puros em seu amor, não se assustam. Ao contrário, se divertem ao ver a preocupação dos passageiros, temendo que o Papai Noel fosse um ladrão disfarçados. Mas foram dos poucos que ficaram calmos.
Aos últimos passageiros, o Papai Noel dizia:
- Por que vocês estão com medo? Eu não sou ladrão. Sou mesmo um Papai Noel.
Ao chegarem ao ponto final, no ônibus só estavam Christina, Gilberto e Papai Noel. Nesta altura, já amigo do casal, que abraçou e presenteou com um pacote de balas. Daquelas doces, que se come.
Nos dias de hoje, nem com trajes e balas, alguém confia em Papai Noel. Ou melhor, só os apaixonados.
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