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O reitor Euro reedita o tira dúvidas de seu pai

Preocupações com greves de estudantes, desenvolvimento de novos projetos para 1990 e mesmo as questões ligadas a sua recondução ao cargo de reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, obrigaram o professor Euro Brandão a adiar um trabalho que vinha elaborando há muitos meses, "com o maior prazer e emoção": a revisão dos textos para mais uma obra póstuma de seu pai, também professor e educador de várias gerações, Nilo Brandão (1895-1967). Mesmo não tendo tempo, nas últimas semanas, de concluir este trabalho, os originais de "500 Dúvidas de Português", um didático livro destinado a esclarecer as dúvidas mais comuns em relação ao domínio da língua, estão em espaço privilegiado em sua mesa de trabalho, "para que eu possa retomar o trabalho tão logo seja possível", explica Euro. Durante nove anos no "Correio dos Ferroviários" (1952-61) e, posteriormente, na "Voz do Paraná", e mesmo em outras publicações, o professor Nilo Brandão manteve a coluna "Nos Domínios da Gramática", na qual respondia questões e prestava os mais diversos esclarecimentos em torno do português, num trabalho semelhante ao que Napoleão Mendes de Almeida faz nas edições dominicais da "Folha de São Paulo" - e que outro filólogo, este paranaense, Rosário Farani Mansur Guérios, já falecido, também manteve por anos na imprensa curitibana. xxx Engenheiro, professor, pintor, entre outras atividades, o professor Euro Brandão, 65 anos - completados no próximo dia 31 de dezembro, gravou um depoimento para o projeto "Memória História do Paraná", recordando suas inúmeras atividades - inclusive sua passagem pelo Ministério da Educação e Cultura, quando ali substituiu ao ministro Ney Braga. Assim como seu irmão, Eudes Brandão (1925-1986), Euro só veio a entrar numa escola quando chegou na fase do ginásio. É que o primeiro grau foi feito em casa, diretamente com o seu pai, um dos mestres mais lembrados de Curitiba por sua competência, mas também pelo seu rigor. Entre 1935/39, Euro foi aluno do Ginnasium Paranaense, época em que o desenho se tornou sua matéria favorita e, em 1940, era um dos ilustradores do "Jornal Tingui", publicação que antecedeu a histórica revista "Joaquim". Na época, também começava sua amizade com o pintor Guido Viaro, seu professor de pintura e que ilustraria inúmeras edições da revista "Correio dos Ferroviários", pioneiro house-organ editado durante anos por Nilo Brandão, que, posteriormente, foi substituído por Euro - inclusive numa fase em que ali iniciava-se no jornalismo um garoto chamado Constantino Viaro, hoje superintendente da Fundação Teatro Guaíra. xxx Engenheiro da turma de 1946 da Universidade Federal do Paraná, Euro logo se tornaria integrante dos quadros da RVPSC, na qual, como desenhista já trabalhava há três anos. Logo chegava à chefia do escritório da via permanente, uma das funções técnicas mais importantes e, em 1949, tornava-se assistente do professor Máximo Assineli na cadeira de Pontes e Grandes Estruturas, da Universidade Federal do Paraná. Engenheiro ferroviário ao longo de toda sua vida - embora paralelamente a vida universitária, Euro chegou a presidente da Rede Ferroviária Federal, ali implantando o sistema de Rodotrem, conjugando os transportes rodoviário/ferroviário - e que apesar de bons resultados, acabou sendo desaquecido. Em 1966, quando a informática era ainda uma área praticamente desconhecida, Euro convenceu ao então reitor Flávio Suplicy de Lacerda a criar um primeiro núcleo de computação no Centro Politécnico, que com um antediluviano IBM 1130, com apenas 8 Kbytes de memória (cuja capacidade era inferior às calculadoras mais sofisticadas, hoje vendidas para uso doméstico a US$ 50) se constituía, entretanto, numa extraordinária novidade para a época. Recorda o professor Euro: - "Valeu, entretanto, o pioneirismo, pois nos deu um grande aprendizado". Posteriormente, Euro implantaria novos centros de computação e hoje, na Universidade Católica, existem uma centena de computadores de novíssimas gerações. xxx Uma das preocupações de Brandão, como reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, foi a de restaurar o Círculo de Estudos Bandeirantes, instituição da qual é um dos mais antigos membros. O projeto de passar aquela instituição - fundada por Loureiro Fernandes e outros intelectuais católicos, em 1926, a Secretaria da Cultura, há alguns anos, foi desastroso: a reforma ficou na metade, paredes foram derrubadas e chuvas e inundações quase destruíram a valiosa biblioteca ali existente. Assumido pela PUC, o Centro de Estudos Bandeirantes terá em breve uma sede magnífica. É que a exemplo do que fez a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, sua diretoria e a Universidade Católica, concordaram com a proposta de um poderoso grupo imobiliário, para que no privilegiado espaço que o prédio ocupa - entre as ruas XV de Novembro e a Marechal Deodoro, próximo ao Teatro Guaíra - seja construído um grande edifício. Em troca, o Círculo terá uma área útil equipada para que todas as suas atividades sejam agilizadas. xxx Em seu depoimento aos jornalistas que integram a equipe do projeto "Memória História do Paraná", Euro Brandão falou também, com sinceridade, da política. Explicou as razões intelectuais que o levaram a integrar o Partido de Representação Popular - e pelo qual chegou a candidatar-se a vereador (obteve 72 votos), embora nunca tenha exercido uma militância política maior. - "Minha aproximação com o integralismo foi no plano das idéias, da cultura e reconheço que devo muito de minha formação a Plínio Salgado". Hoje, na distância do tempo, Euro continua fiel em muitos pontos ao pensamento de Salgado, mas encara com outra visão os problemas contemporâneos, a posição da Igreja e a participação política. Considerando-se, antes de tudo, um educador, "embora com uma grande experiência nas áreas técnicas e administrativa", vê o diálogo, a compreensão e o entendimento entre as pessoas, "como a melhor forma de fazer com que alcancemos nossos objetivos comuns", diz, esperançoso de melhores dias para o Brasil. LEGENDA FOTO - Euro Brandão: reeditando a obra do pai.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/07/1990

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