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Aramis

O Poeta morreu na estrada mas suas canções ficarão

Há exatamente um ano, um domingo, no principal clube de Pato Branco, Luiz Gonzaga Júnior fazia a sua última apresentação. Em excursão pelo Sul - que havia iniciado oito dias antes, no Teatro do Paiol, com o espetáculo "Cavaleiro Solitário", mostrava uma nova fase, como intérprete solo, acrescentando a um repertório já cinhecido por inúmeros sucessos oito novas canções. Como em outras 11 cidades nas quais já tinha se apresentado - a partir de fevereiro, em Petrópolis, os aplausos haviam sido intensos confirmando que alguns anos de ausência num trabalho mais direto com platéias do Interior não lhe retirara a popularidade - ampliada, aliás, por suas muitas canções gravadas por superstars como Elis Regina, Simone, e outros grandes nomes. Depois de jantar com seu produtor renato Costa - amis do que empresário, um amigo leal e dedicado, que o vinha assessorando há 4 anos, e os promotores locais e alguns amigos, Gonzaguinha recolheu-se relativamente cedo. Acordou às 6h e às 7h já estava na estrada. Gostando de dirigir, pediu ao empresário Aristides Pereira, da promotora de shows O.Mello, de Cascavel - que organizou parte de seu roteiro no Interior do Paraná, para conduzir o Monza, placa AOM-8373, no qual viajava com Renato e Aristides. Estavam sem pressa, pois, só às 16h, em Foz do Iguaçu, apanhariam o avião que os levaria a Florianópolis, de onde a excursão prosseguiria por várias cidades catarinenses e gaúchas. Semanas depois, "Cavaleiro Solitário" estaria no Nordeste e, depois, já acertada, cavalgadas na Europa. Gonzaguinha, eufórico, pleno de vida, tinha muitos planos - inclusive para o novo elepê, no qual incluiria as 8 músicas inéditas que vinha apresentando em público pela primeira vez. Durante as apresentações, falava com insistência do reencontro afetivo das pessoas e reverenciava seu pai, o grande "Gonzagão", que havia falecido em 2 de agosto de 1990, no Recife - e cuja memória estava empenhado em preservar, através da Fundação [Aza] Branca e do Museu Gonzagão, na cidade de Exu, a 700km de Recife, onde Luiz havia nascido em 13 de dezembro de 1912. xxx A morte veio na estrada. Na forma de um F-4000, de placa AAB-7303, dirigida por Pedro Ciknovicius, que no trecho entre Pato Branco e Marmeleiro chocou-se com o Monza dirigido por Gonzaguinha. Uma batida fatal, que atingiu os três passageiros do automóvel e também o motorista Pedro. Conduzidos a Marmeleiro, por Pedro Almirante, motorista de uma camionete, que transportava suínos na carroceria, Gonzaguinha chegou praticamente morto naquela cidade - que nào dispunha de médico para atender aos feridos gravemente. Foram então conduzidos para a Clínica São Vicente de paulo, em Francisco Beltrào, no qual receberam já algum atendimento. Aristides viria a falecer às 13h e Renato Manoel Duarte, em estado de coma, iniciava um demoradíssimo processo de sobrevivência. Hoje, após uma dezena de operaçòes, dez meses em tratamento diz: - Ëu nasci duas vezes. A primeira em 12 de agosto de 1947, em Bragança Paulista. A segunda foi há um ano em 29 de abril de 1991". xxx A morte de Gonzaguinha na estrada - em acidente automobilístico como os que atingiram tantos artistas, entre os quais Francisco Alves, há 39 anos, Silvinha Telles, Maysa - emocionou o Brasil. Perdíamos um de nossos maiores compositores, poeta de sua época, que sem perder o romantismo e a ternura - foi a voz consciente, ao lado de uma dezena de grandes brasileiros (Chico, Ivan Lins, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro etc) na música política dos anos pesados da ditadura militar. Inconscientemente, totalmente entre a vida e a morte por 45 anos, passando de hospital para hospital, Renato Costa, sobreviveria a tragédia e, ao retornar à vida, sua primeira preocupação foi que uma última decisão de Gonzaguinha fosse realizada: um grande espetáculo para o povo, reunindo sanfoneiros e no qual fosse oficializada a Fundação [Aza] Branca. Como no dia 21 de abril, havia estado com o governador Roberto Requião, no Palácio Iguaçu - e ele recebido a promessa de que o Estado daria apoio para o evento, Renato, tão logo se recuperou, telefonou ao seu amigo Claudio Ribeiro, assessor da Casa Civil, e teve reafirmada a dsiposição do governo cumprir a palavra. O que acontecerá, finalmente amanhã, na Avenida Luiz Xavier.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
28/04/1992

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