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Aramis

Mercado fonográfico cresceu mas independentes foram prejudicados

A indústria fonográfica entrou num boom tão grande que aquilo que no início era motivo de comemorações começa a preocupar o tycoons do setor: nunca se vendeu tantos discos como nos últimos seis meses mas, em compensação, nunca houve tanta dificuldade para atender a demanda. Assim como em outros setores, também a indústria fonográfica ressente-se da falta de matéria-prima - e se há 13 anos, na crise do petróleo, era o vinil que preocupava - hoje até as gráficas não conseguem imprimir capas e encartes na quantidade desejada. As cinco indústrias que prensam discos no Brasil estão trabalhando até 24 horas por dia/noite e não atendem a demanda - que só tende a crescer, ainda mais, com as vendas de fim de ano, quando virão discos como o do super-campeão em vendas Roberto Carlos, Simone, Beth Carvalho e outros nomes da maior popularidade. Com este boom fonográfico, que faz com que mesmo as multinacionais enfrentem problemas, a produção de discos independentes entrou em crise. Afinal, se na época das vacas magras as fábricas de discos atendiam de braços abertos os produtores autônomos, que com suados cruzeiros pagavam as modestas tiragens de 2 a 3 mil cópias de suas realizações alternativas, hoje as indústrias não atendem mais pedidos independentes. Ou aceitam sem compromisso de prazo - pois fundamentalmente há produções que saem com tiragens de 400 mil cópias, como o novo álbum de Sting, ex-Police, lançado pela Polygram na semana passada. Às vésperas de completar 10 anos de atividade regular - afinal, foi em 1977, a partir de "Feito em Casa", que Antônio Adolfo provou a viabilidade do disco independente - esta forma um tanto guerrilheira de cantores, instrumentistas e mesmo compositores escaparem da pasteurização e injunções das grandes empresas - se vê hoje restrita pela falta de condições industriais. Entretanto, ainda há, vez por outra, alguns trabalhos, prensados já há alguns meses ou conseguidos a custa de um esforço (e amizade) muito grande de seus realizadores. Por outro lado, começa a crescer um novo tipo de produção - o dos discos bancados por lojas que sentindo as preferências de seus públicos específicos decidem investir em produtos que, normalmente, não seriam editados. Desde o rock jovem e pesado, que a Baratos Afins, de São Paulo, vem editando (sem qualquer esquema promocional) até as excelentes coleções de alto nível que o Museu do Disco e, especialmente a Breno Rossi tem colocado no mercado. Depois da ótima coleção "I Love Jazz", a Breno Rossi, em colaboração com a CBS, acaba de lançar mais vinte esplêndidos álbuns - dez da área clássica e dez de jazz - incluindo quatro volumes (3 duplos) da maior intérprete de blues da história, Bessie Smith, até hoje inédita no Brasil. Assunto que, obviamente, merecerá comentários posteriores e detalhados. Um jovem empresário curitibano, Virgílio Savarim, 29 anos - dos quais 16 dedicados ao trabalho em discos, ex-gerente da uma das lojas Rui Bruneti (hoje fora do ramo) e, há 3 anos, com sua própria loja, também decidiu bancar a prensagem de discos. O rock de Savarim - Com uma clientela basicamente jovem e que busca especialmente edições já fora de catálogo, Virgílio Savarim propôs à Polygram o lançamento de quatro elepês - um dos quais nunca havia sido editado no Brasil. Assim, um dos primeiros álbuns do grupo escocês Nazareth, da linha heavy metal, está no pacote que Savarim comercializa com exclusividade no Paraná (rua Saldanha Marinho, 265), no qual estão faixas como "Witchdoctor Woman", "Empty Arms, Empty Heart" e "Country Girl". Formado por Dan McCafferty (vocais), Pete Agnew (baixo), Darry Sweet (bateria) e Manny Charlton (guitarra), o grupo Nazareth (anteriormente, os três primeiros formavam um grupo chamado The Shadettes) lançou seu primeiro lp em 1971, tornando-se famoso na Escócia. Mas só quando se transferiram para a Swinging London do início da década passada é que as coisas começaram a crescer. Os álbuns "Razamanas" e "Loud'n'Proud", de 1973/74, foram produzidos pelo ex-baixista do Deep Purple, Roger Glover e serviram para estabelecer o Nazareth na Europa. E justamente o "Loud'n'Proud", de 12 anos passados, foi escolhido por Savarim para ter uma reedição cuidada, trazendo, entre outras faixas hoje clássicas, a bela "This Flight Tonight" (Joni Mitchel) e uma versão especial de "The Ballad of Hollis Brown" de Bob Dylan. Do grupo holandês Focus - que a exemplo do Nazareth teve grande sucesso no início dos anos 70 - Savarim propôs à Polygram a reedição do segundo álbum do grupo, o movimentado "Moving Waves", que traz no lado dois uma versão pop inspirada na lenda de Orfeu e Eurídice, desenvolvida em seis movimentos. Inicialmente, o Focus era um trio formado por Thijs van Leer (teclados, flauta, vocais), que possuía formação erudita; Martin Desden (baixo) e Hans Clever (bateria). Posteriormente, o excelente guitarrista Jan Akkerman juntou-se ao grupo. Com algumas variações na formação, o Focus explodiu na Inglaterra e, poucos depois, nos EUA, com a canção "Sylvia" de seu lp "Focus 3" (outro álbum cuja reedição está nos planos de Savarim). O Focus desenvolveu um tratamento de Akkerman e Thijs van Leer, que posteriormente seguiram carreiras distintas. A Baratos Afins conseguiu da Polygram a reedição de todos os discos de Rita Lee e os Mutantes, além de alguns dos primeiros álbuns-solo da irreverente roqueira. Mas foi Savarim quem obteve a reedição do elepê "Atrás do Porto Tem uma Cidade", seu terceiro elepê-solo - depois de "Build Up" (1969) e "Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida" (1972). Hoje uma das superstars da música brasileira - recém-contratada da Odeon, numa transação de muitos milhões de cruzados - Rita Lee Jones (São Paulo, 31/12/1947) pode ser apreciada agora, neste relançamento, numa fase post-Mutantes, quando ainda não havia encontrado seu parceiro (na cama e na música) Roberto de Carvalho, e compunha sozinha ("De Pés no Chão", "Menino Bonito", "Pé de Meia") ou então com Luís Sérgio e Lee Marcuci, com quem dividia, em 1974, três das faixas deste elepê, que volta assim ao mercado, para que os fãs da roqueira possam completar sua discografia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/10/1986

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