Menguine, um profissional
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de abril de 1975
Enquanto muita gente ainda insiste em se queixar da "falta de auxílio oficial" para o desenvolvimento das atividades teatrais, há alguns atores que são exemplos de iniciativa privada neste campo. Por exemplo, José Maria Santos e Roberto Menghine, sem pedir subvenções e desenvolvendo trabalho altamente profissional, vem conseguindo viver (confortavelmente) apenas de suas atuações no palco. De Zé Maria já falamos várias vezes, por isso registramos hoje o trabalho que Menghine vem fazendo pelo Interior. Originário da televisão onde foi contratado por vários anos, o grupo de Menghine é formado por seis intérpretes que trabalham em equipe: Aiton Miller, José Basso, Clovis Aquino, Gilda Elisa, Odealir Rodrigues e o próprio Menghine. Há seis anos, o grupo vem percorrendo dezenas de cidades no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul: "Zefa Entre os Homens" de Henrique Pongetti, "Oração Para Uma Negra" de William Faulkner/Albert Camus, "A Próxima Vítima" de Marcos Rey foram as peças montadas nos anos anteriores. Agora, o grupo excursiona com uma remontagem da comédia "Nega de Maloca" do curitibano Cicero Camargo de Oliveira (um dos maiores sucessos de Ary Fontoura, no Teatro de Bolso, em 1958) e dois espetáculos infantis: "Dona Patinha Vai Ser Miss" e "Apolonio I, O Astronauta". Só em 1974, Menghine e seu grupo estiveram em 67 cidades, apresentando-se para 100 espectadores e faturando Cr$ 335.000,00 somente em espetáculos vendidos. Em maio, iniciam nova temporada, com 52 cidades do Rio Grande do Sul no roteiro. Catarinense de Porto União, 42 anos, 24 de carreira profissional, Menghine vem provando que já é possível sobreviver de um trabalho teatral. Independente da avaliação artística-crítica o fato é que a custa de muitas e suadas viagens, abrindo novos mercados, o seu grupo vem levando autores nacionais e estrangeiros em todas as cidades do Sul. Um exemplo para muitos "[gênios]" que ficam no asfalto, em chopadas pela madrugada, clamando "da falta de incentivo do governo".
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