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Aramis

MAPA, 3ª edição (que não falte alpiste...)

Só o fato de se ouvir um chorinho do melhor nível como "Arrepiado", de Celso Pires, 26 anos, ou uma proposta realmente inteligente de letra-caleidoscópica, como "Receita", de Marinho/ Paulo Vítola, já faz com que se saúde, entusiasticamente, o Terceiro Movimento, do MAPA, idealizado em princípios de 1975 por Paulo Vítola e que hoje, com serenidade e inteligência, tem continuidade graças a Mário Gallera, 27 anos, compositor e violonista dos melhores. Dividido em duas fases - a primeira no último fim de semana, e a outra a partir de quinta-feira, no Teatro do Paiol, o "Terceiro Movimento" mostrou sensível evolução sobre as duas primeiras edições - fato plenamente compreensível, uma vez que seus participantes, superando divergências intestinais e conscientizando-se da seriedade deste movimento, vem se preocupando em mostrar um trabalho realmente sério. Embora nos pareça precipitado o entusiasmo de alguns dos dirigentes do MAPA em partir imediatamente para a produção de um elepe - já que parece haver fartos recursos oficiais (MEC/FCC) para tanto - não há dúvida de que 3 ou 4 músicas apresentadas até agora têm condições de circular nacionalmente, merecendo respeito e admiração, há necessidade de senso crítico (e do ridículo), selecionando rigorosamente os participantes. Agora, se pretende fazer apenas um disco para distribuição entre amigos e parentes, para orgulho das mamães e namoradas, então pode ser mais liberal na produção. Houve, sem dúvida, ótimos momentos no Terceiro Movimento: Marinho, além de cantar uma das mais belas músicas de nosso cancioneiro, "Azulão", dos compositores bissextos Jaime Ovalle (1894/1955) e Manuel Bandeira (1886/1968), apresentou duas novas músicas que têm méritos para merecer registro em disco: "O que há de novo? E "Receita" (esta em parceria com Paulo Vítola, e de longe o melhor trabalho apresentado até agora). Ao lado de Celso Pires, com o seu estimulante chorinho "Arrepiado", outro bom momento de música brasileira foi a "Modinha", do jornalista Sergio Malluf, que, em compensação, no momento seguinte, mostrou uma música diametralmente oposta: "Voar é com os Pássaros", com indigna letra em inglês. Gerson Fisbein, 18 anos, o caçula do MAPA, continua a mostrar um talento em escalada: "Um Olhar Cansado" e "Monotonia" são temas excelentes, que Gerson valoriza com sua voz suave e afinado. Dispensável apenas a demagógica apresentação de Fisbein, pelo "titio" Silvio Caldas. Mostrando a (positiva) influência de Maurício Einhorn, que recentemente deu curso de harmônica de boca em Curitiba, o múltiplo Celso Renato Lochm compositor, violonista e flautista, apresentou uma música de densas propostas e que merece ser ouvida com muita atenção: "Imagens Latinas". Já a sua segunda composição ("Falando de Mar") só justifica-se como uma curtição de admiração a Gilberto Gil. O inglês Alan Canell, 26 anos, engenheiro de tráfego e esforçado violonista, mostrou, em solo, dois profundos temas - onde não esconde sua admiração aberta de John McLaughlin a Erik Satle. O poeta concertista Paulo Leminski, convidado para costurar o texto do espetáculo, teve uma boa idéia em aproximar os diversos participantes com o canto dos passarinhos. Já o excesso de slides projetados nada acrescentou ao espetáculo, ao contrário, até prejudicando certos números. Destaque-se, finalmente, a perfeita integração musical - com os diversos participantes revezando-se nos instrumentos, com resultados ajustados. Agora é esperar a 2ª parte do movimento. E que não falte alpiste...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
25/11/1975

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