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Aramis

A estrela de Bruno

Há quase dois anos, quando Bruno Barreto, 20 anos, esteve em Curitiba, junto com a atriz Dina Sfat, para lançar o seu primeiro longa-metragem, "Tati, a Garota", ele já estava preparando o roteiro de "A Estrela Sobe" (cine Vitória, a partir de hoje), do romance de Marques Rebelo (Edis Dias da Cruz Rebello, 1907-1974). Com uma precoce nostalgia, Bruno se entusiasmou com a época em que a ação do romance transcorre - os anos quarenta, o auge dos cassinos e dos programas de auditório das rádios no Rio de Janeiro - e o resultado foi que realizou um filme com muito amor, recebido entusiasticamente pela crítica carioca e paulista, além de, em termos de público, ter surpreendido as mais otimistas perspectivas. Basta dizer que numa semana rendeu tanto quanto "O Exorcista". Bruno Barreto tinha menos de sete anos quando o pai, Luiz Carlos, já um veterano repórter-fotógrafo, passou ao cinema como um dos principais colaboradores de Roberto Farias em "O Assalto ao Trem Pagador" (1962). Aprendendo cedo a fotografar, Bruno iniciaria suas experiências cinematográficas, em 16 mm, aos onze anos de idade, fazendo um documentário sobre a cachorra Baleia, que era uma das principais "intérpretes" de "Vidas Secas" (64, de Nelson Pereira dos Santos). Em 1971, inspirando-se numa crônica de Carlos Drummond de Andrade, faria "A Bolsa e a Vida", em 35 mm, a que se seguiu "Emboscada" (1972), baseado num conto de Herberto Sales (hoje diretor do Instituto Nacional do Livro). Em 1973, um conto de Aníbal Machado, "Tati a Garota", servia como ponto de partida para a promoção do cineasta, aos 17 anos, à longa-metragem. Quando esteve em Curitiba, em 19973, para o lançamento de "Tati, a Garota", Bruno e Dina decepcionaram-se com a promoção social que cercou o filme: uma sessão com traje a rigor, no auditório do Clube Curitibano, inaugurando cabina de projeção de 35 mm, que apesar de nova deu "pane". Bruno e Dina preferiam que ao invés da sessão de gala - que por sinal, em termos de público, foi um fracasso (pouco mais de vinte pessoas num auditório de 200 lugares) - tivesse havido possibilidade de um contato mais amplo com os espectadores jovens, para, inclusive, discutir o seu filme. Apesar de ter apenas 20 anos de idade, Bruno tem uma vivência cinematográfica que falta a muitos cineastas (ou pseudo-cineastas) maduros. Jovem curtidor de velhos filmes, Bruno tem uma posição bastante crítica em relação ao "Cinema Novo", que o influenciou em sua carreira: "Do CN herdei a tendência para tratar de assuntos brasileiros. Mas o Cinema Novo sofria um desvio de intenções: fazia filmes sobre coisas brasileiras, que, no entanto, não eram brasileiras na forma e no sentimento. O cinema que estou fazendo, que quero fazer, não é frio, não é intelectualizado, e procura o gosto popular". No caso de "A Estrela Sobe", o que interessou a Bruno no romance de Marques Rebello foram as possibilidades dramáticas da história de Leniza Mayer, a pequena pobre que sonha com uma carreira de rádio, e a oportunidade de experimentar um filme de grande espetáculo: "A época de Leniza me oferecia muitos subsídios para isso. O que eu curto, aí, em primeiro lugar, é o próprio filme norte-americano de grande espetáculo e, em seguida, as tentativas de imitação que houve aqui no Brasil, no teatro de revista nos cassinos e nos musicais de cinema. LEGENDA : Betty Faria, a estrela (que) sobe
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
15/02/1975

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