A polêmica explodiu, cresceu e arrefeceu: a premiação do último Salão Paranaense de Belas Artes, com a virada da mesa do crítico Walmir Ayala, gaúcho radicado no Rio de Janeiro. Só que no bate-boca que se estabeleceu, quem não foi ouvido foi justamente a artista Estela Sandrini, premiada maior do tumultuado salão. Por isto mesmo, embora seja uma pessoa discreta e avessa a autobadalação, a estimada "Teca" - como os amigos chamam - distribuiu uma carta simpática, posicionando-se a respeito. Um documento que merece divulgação, independente da polêmica. xxx "Recebi o principal prêmio no 43º Salão Paranaense. Para quem vem se dedicando à pintura, desenho, gravura, escultura e artesanato há mais de vinte anos, tendo recebido 8 prêmios em dezenove certames de âmbito nacional (quatro no Paraná, inclusive um, de gravura, recentemente em Curitiba) esta nova premiação seria mais um incentivo no caminho da minha realização artística, não fora o desentendimento havido entre um dos jurados com os demais. Assim, o que deveria ser apenas uma disputa interna de critérios entre jurados, acabou se transportando para as páginas dos jornais e atingindo minha arte que foi, por algumas pessoas, prejulgada antes mesmo da exposição estar aberta ao público para todos poderem se pronunciar, com maior seriedade, sobre a decisão dos juizes os quais usaram, para tanto, de critérios subjetivos. As desavenças havidas nos salões, no decorrer dos tempos, sempre se concentraram na qualidade dos trabalhos e na sua posição perante o panorama da arte em determinado momento. Isso não aconteceu no 43º Salão Parananense. A briga entre os jurados deixou em segundo plano os artistas, suas telas e acabou transformando-me em acusada, não de ter apresentado obra secundária, mas de trabalhar no Museu de Arte Contemporânea (MAC), o que é mentira, e insinuando interferências políticas junto aos jurados (todos eles escolhidos pelos próprios artistas) que não iriam abdicar de sua reputação profissional para subordinar-se a pressões. Como se nota, minha posição ficou delicada e incômoda. Delicada por ter que vir discorrer sobre algo para o qual não contribuí. Incômoda, porque se pretende macular um prêmio posto em dúvida, gratuitamente, por um jurado entre cinco. Essas palavras se fazem necessárias, não como defesa (minha obra fala por mim), mas como uma explicação. Particularmente às pessoas que acompanham meu trabalho e nunca deixaram de me incentivar. Espero tão somente que a Verdade, irmã da Arte (senão a própria Arte) acabe, como sempre, prevalecendo". xxx Curitiba, 40 anos, Estela Carmen Pereira Sandrini - filha do sempre lembrado jornalista José Eduardo Ericksen Pereira que foi o primeiro secretário de redação de O Estado do Paraná e deixou um livro básico para o entendimento da colonização do Paraná ("Uma História de Caminhos"), formou-se em 1967 pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Freqüentou o atelier de Guido Viaro (1962/63) e o atelier de escultura de Juan Carlo Labourdette, em Buenos Aires (1971/72). Nestes últimos dez anos tem participado em inúmeras exposições nacionais, obtido premiação importantes - inclusive os da Bienal de Gravura e do Salão Nacional de Belo Horizonte - ambos neste ano. Seu prestígio tem sido crescente em plano nacional, com convites para individuais em importantes galerias. Enfim, Estela Sandrini é uma artista de méritos - que, independente de qualquer apreciação, não deve - nem pode - ter seu talento atingido por divergências de jurados. E, com toda razão, ela faz um posicionamento claro a respeito deste episódio, no mínimo lamentável.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 13

Data: 20/12/1986