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Aramis

"El Toro" na praça e a rádio Ouro Negro no ar

O Turco, o Nepom, o Bolha, o Guidinho, o Du Elefantinho, o Karuto, o Nano, o Zico, o Badito eram alguns dos alegres e descompromissados integrantes da turma da Praça Espanha - que entre 1950/65 tinham uma vida de lazer em comum, de verdadeira integração - que hoje dificilmente se repete, com o isolamento dos jovens em impessoais edifícios imensos e um distanciamento afetivo cada vez maior. Era todo um comportamento social diferente, com uma integração comunitária tão intensa que a "Turma" chegava a editar um jornalzinho mimeografado - "El Toro" e, pasmem! - havia até uma rádio pirata, a "Ouro Negro", "justamente para ironizar não só o prefixo que começava a conquistar audiência em Curitiba, mas especialmente a turma do Café Ouro Verde", explica Marion Kmiec, 49 anos, um dos cinco jovens que todas as noites, entre 20h30 colocava a emissora clandestina no ar. Ney César Neves, 50 anos, hoje engenheiro da Telepar, já era apaixonado por radiodifusão e foi quem convenceu Evaldo Seeling - hoje juiz aposentado - a instalar nos fundos da garagem de sua casa a "emissora". Wilson de Araújo Gois, 48, era o redator-locutor da parte social, enquanto Sérgio Castro coordenava um programa audacioso: uma radiofonização inspirada em heróis de histórias em quadrinhos. Sérgio Castro, que também viria a cursar Engenharia, era o quinto integrante da equipe da Rádio Ouro Negro, que funcionou entre 1957/58, mas que, prudentemente, saiu do ar quando o Dentel começou a rastrear suas emissões e ameaçou levar os pioneiros radiopirateiros ao xilindró. xxx O Turco da Praça Espanha era o jovem Enéas Eugênio Pereira Faria, que viria a fazer belíssima carreira política. Nepom era Antônio Nepomuceno, que como seu pai e irmão, formou-se em direito. Aliás, o bacharelismo marcaria o futuro da turma: os irmãos Ruy de Macedo - Paulo, Marcos e Ricardo; Cleyton Camargo, Evaldo Seeling, Bayard Osna, Fajardo e Enéas Faria, Francisco Varcasi, Mauro Castro, Rafael e Silvio Simile Ribeiro (o "Barnabé"), entre tantos outros, se formariam em direito - alguns seguindo a carreira no Ministério Público, outros no Judiciário. Saíram também engenheiros como Sérgio Castro, médicos - José Assis Assad ("Du"), dentistas - Osvaldo Saporiti Siqueira ("Zico") e o jornalista Cícero do Amaral Cattani, que começando na sucursal curitibana de "Última Hora", no inicio dos anos 60, é hoje o próspero editor-proprietário do "Correio de Notícias". Também fazia parte da turma um jovem que gostava de desenhar e era extremamente inventivo: Abrão Aniz Assad, hoje um dos mais conceituados arquitetos paranaenses. Ricardo Ruy Franco de Macedo ("Babalú") recorda: - "O Abrão fazia uma espécie de foguetes, antes mesmo da Apolo II, que usava combustível sólido, ou seja, "rojão" da marca Caramuru. Era um sucesso". Outro habilidoso era Antônio Nepomuceno, que no mês de julho construía balões de seis metros que voavam centenas de quilômetros. Já Marcos Ruy Franco de Macedo ("Marquito") e Francisco Vercesi ("Chiquinho") eram os mais briguentos. E bons de briga, que digam os integrantes da turma do Ouro Verde - que constantemente apanhavam. Marquito - que também entraria no jornalismo, mas só que na área da circulação, trabalhando na sucursal da UH - recorda: - "Mas a nossa briga mais famosa foi contra o time de futebol Caramuru, de Castro. O time inteiro apanhou". Uma das diversões favoritas da rapaziada era transformar a área destinada ao repuxo - quando o imenso terreno baldio começou a ser urbanizado na administração de Iberê de Mattos (1956), numa espécie de rodeio. Eduardo Bueno - o "Bolha" - liderava um grupo de rapazes mais audaciosos que iam "roubar" cavalos de leiteiros no então "distante" bairro da Campina do Siqueira para cavalgá-los na praça, ao melhor estilo dos cowboys que assistiam nas telas dos Cines Ópera, Avenida, Palácio e, especialmente, América e Curitiba. - "Assim nasceu a "Estância Bolha", e o empréstimo dos cavalos dos leiteiros nos custou algumas fugas improvisadas, pois os seus donos nos expulsavam a chicotadas" - recorda Ruy Franco de Macedo. LEGENDA FOTO - Possuir um fusca era o máximo status para a época dourada da turma da Praça da Espanha. Aqui, quase encobrindo o fusqueta azul de Cândido Doring, aparecem Roberto Quadros, Roberto Griebeler, Aurélio Quadros, Gentil José Borges, René Ramos Viana (já falecido) e Marian Kmiec, que, todas as noites, punha no ar a primeira rádio pirata do Paraná - "Ouro Negro".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
09/12/1990

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