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Aramis

Dicionário lembra aqueles que fizeram filmes locais

As luzes acendem-se no fim do túnel de exibição: apesar de tudo (e muitos), o espaço informação/cultura, em termos de cinema e música amplia-se também em textos impressos provando o amadurecimento do público interessado. Embora ainda estejamos anos-luzes distante do Nirvana editorial americano-anglo-francófilo no qual mensalmente são lançados dezenas de títulos voltados ao cinema, este ano o número de livros superará os que apareceram em 1989, conforme prevê o atento Cosme Alves, da Cinemateca Brasileira - que anualmente relaciona todas as edições da área. Há duas semanas, saiu uma obra básica de referência - "Dicionário de Cineastas Brasileiros" de Luiz Felipe Miranda (Art. Editora/Secretaria da Cultura de São paulo, 408 páginas, Cr$ 2.800,00), que teve os primeiros exemplares recebidos pela Ypê Amarelo e Nova Ordem - as duas melhores livrarias da cidade - disputados a tapas, o que prova a existência de muita gente interessada. Era uma obra que faltava! Em 1977, quando fez o pioneiro "Dicionário de Cineastas" (Global, 467 páginas), Rubens Ewald Filho incluiu os principais realizadores brasileiros, mas reconheceu que a relação foi incompleta. Pretendia corrigir a falha na reedição da obra, mas suas intensas atividades, que o fazem o jornalista de cinema que mais viaja pelo mundo, impediram-no de se deter numa pesquisa maior. Só a muito custo conseguiu atulizar e ampliar a parte internacional para a reedição de "Dicionário de Cineastas" (LP&M, 611 páginas, 1988), deixando os brasileiros para um segundo volume. Enquanto isso, um pesquisador e cinéfilo apaixonado, Luis Felipe Miranda, 34 anos, trabalhou bastante, buscou ajuda de veteranos pesquisadores como Michel do Espírito Santo (carioca, dono de um dos mais completos arquivos de cinema do país), Rubem Biáfora, Jairo Ferreira, Antônio Jesus Pfeil (em Porto Alegre), Fernão Ramos, entre outros, e produziu seu "Dicionário de Cineastas Brasileiros". São mais de 700 cineastas listados, cada um merecendo um verbete que indica os dados básicos, filmografia e fontes de referência bibliográfica. Menos opinativo e mais consultivo do que o de Ewald Filho, o livro de Luis Felipe não pretende, como qualquer obra referencial, ser definitivo e completo: naturalmente há omissões e (pequenos) erros, mas que em absoluto o invalidam. Ao contrário, trata-se da obra mais útil para quem se interessa pelo nosso cinema, registrando todos os homens e mulheres que, há quase 100 anos vêm tentando fazer cinema. Observando-se os verbetes - que mostram que poucos foram os cineastas que conseguiram ter uma produção maior e regular - comprova-se como é difícil se fazer cinema em nosso país. São centenas de nomes recenseados que não passaram de um, dois ou no máximo três títulos de longa-metragem. O dicionário não se ocupa dos curta e médias-metragens, já que nesta área há centenas de nomes, especialmente jovens, cuja pesquisa fica a merecer um próximo volume. xxx Embora não tenha contado com nenhum colaborador em Curitiba, Luis Felipe cita pelo menos três cineastas que por aqui fizeram trabalhos pioneiros: Guido Padovani, nascido em Padova, Itália, 1921 - e de cujo paradeiro ninguém sabe - que após ter trabalhado em Cinecittá e dirigido um curta sobre Veneza, foi para São Paulo, onde, em 1952, realizou um longa, "Conflito". Posteriormente, morou anos em Curitiba e aqui chegou a montar algumas produções, mas, desiludido, acabou dono de uma das primeiras uiscarias classe "a", na galeria Tijucas, logo após a construção do prédio. José Vedovato, paulista de Jundiaí, que após trabalhar como cenógrafo em várias produções paulistas ("O Sobrado", "Dioguinho", "Fronteiras do Inferno" etc.), veio para Curitiba, engajado na produção de "Maré Alta", longa-metragem que surgido do idealismo de um ex-ator da Cinédia e da Atlântida, Eugênio Contrim, transformou-se numa tumultuada produção rodada na Ilha do Mel e em Paranaguá que quase levou o seu produtor, o coronel Rubens Mendes de Moraes, à falência. Concluído por Egídio Eccio (1922-1979), após ter tido outros diretores, "Maré Alta" permanece tão desconhecido como os dois outros longas de Vedovato aqui faria, produzidos pelo idealista Florisval Lopes: "E Ninguém Ficou de Pé" (1972) e "Inocentes Porém Ingênuos", com os irmãos Queirolo. Falecido há alguns anos, em São Paulo (para onde retornou, lá fazendo pornô-produções como "Uma Cama Para Sete Noivas" e "O Sexo e as Pipas", Vedovato não tem o ano de sua morte mencionado no dicionário. Outro cineasta que também tentou fazer cinema no Paraná, Pena Filho (Adalbero Pena Filho), capixaba de Vitória, 54 anos - aqui rodou "O Diabo Tem Mil Chifres", 1971, em Antonina e Morretes, merece também um verbete de 21 linhas. Outros cineastas que também aqui fizeram filmes são lembrados no dicionário de Miranda que, como promete o autor, será constantemente atualizado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
07/11/1990

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