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Denise, todas as emoções no simples gesto de amor

Já houve época em que Ricardo Bandeira era o sinônimo da mímica no Brasil. Discípulo do mais famoso mímico do mundo - o francês Marcel Marceau - Bandeira poderia ter sido um superstar neste difícil gênero que tem poucos cultores no mundo. Inteligente, politicamente dos mais conscientes (nos anos mais duros da repressão, nunca escondeu suas idéias marxistas) Bandeira teve muitas chances profissionais e chegou a fazer muitas desde apresentações para milhares de pessoas num estádio de Moscou até criar um curioso método de ensinar inglês através da mímica, que o trouxe, aliás, a Curitiba, há mais de 20 anos. Infelizmente, problemas de bebida fizeram com que a carreira de Ricardo Banderia fosse prejudicada - e hoje poucos lembram-se dele, apesar de algumas tentativas de retorno. A mímica, assim, precisava de um novo artista, capaz de aproveitar toda a potencialidade da linguagem dos gestos. Meio intuitivamente, a iratiense Denise Stocklos percebeu que este era o caminho e assim, embora podendo vencer também como atriz tradicional, enveredou pela mímica. Aproveitou uma temporada na Inglaterra para fazer especialização, viajou a Israel e África do Sul, fez contatos com outros profissionais e hoje é, com razão, o grande nome da mímica no Brasil. Dentro da abertura de espaço que sempre oferecemos aos legítimos e honestos talentos paranaenses que se projetam lá fora. Denise sempre teve destaque em nossas colunas. Afinal, ela é notícia espontaneamente, sem precisar esquema de autobadalação, ao contrário de falsos (e medíocres) "valores" locais. O calendário de Denise tem estado tão ocupado nestes últimos anos que nem tem podido trazer a Curitiba os espetáculos que tem lotado teatros no eixo Rio-São Paulo e levados, nestes últimos meses, também para platéias internacionais. Por exemplo, "Um Orgasmoa Adulto Escapa do Zoológico", do italiano Dario Fó - hoje, um de seus grandes amigos, e com quem esteve recentemente, em Milão - teve apenas duas apresentações, no Teatro do Paiol há quase dois anos. Para fazer uma única apresentação de "Elis Regina", espetáculo criado no início deste ano, em homenagem à cantora Elis Regina (1945-1982), Denise teve que modificar várias vezes sua agenda - e faer com que a generosa Marlene Montenegro, diretora de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra, refizesse o calendário da fundação nesta quinzena. Finalmente, entre viagens ao Uruguai e Espanha - e a sua próxima temporada em Nova Iorque, que se estenderá por três meses apresentou, ontem à noite, no Teatro Guaíra, este seu belo espetáculo. Mesmo correndo o risco de apresentar um espetáculo naturalmente intimista num auditório imenso - como é o Bento Munhoz da Rocha Neto - Denise passou a emoção, sensibilidade e, especialmente a criatividade que faz de "Elis Regina" um dos espetáculos mais elogiados do ano. - desde suas primeiras apresentações, quando, inclusive, houve a participação especial do ator Paulo Cesar Pereio. O roteiro foi desenvolvido em colaboração com Christiane Torlone - não só uma belíssima sex symbol, mas também uma mulher inteligente e de boas idéias. Ao lado de "Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoo" - em que Denise deu sua própria leitura a cinco sketches de Dario Fó (do mesmo material, Marília Pera criou outro espectáculo de sucesso - "Brincando em Cima Daquilo"), e de "Habeas Corpus", sua montagem mais recente, Denise está formando um repertório que lhe permite, como one-woman-show levar sua arte a qualquer parte do mundo. Ao invés de palavras, os gestos - e na linguagem da sensibilidade dos sentimentos, transmitir uma mensagem de indagações e reflexões humanas capaz de chegar a qualquer pessoa com a mínima emoção.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
11/11/1986

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