Cultura popular
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de dezembro de 1977
Depois de ter demonstrado possuir realmente uma cultura nacional, popular e nativista, através de seu trabalho como ator, compositor e escritor, Mário Lago, lança mais um livro de sua autoria: "Bagaço de beira-estrada", seqüência de "Na rolança do tempo". O livro trata de sua experiência no rádio brasileiro, principalmente na Rádio Nacional. Mário Lago registra aspectos pitorescos, alguns desconhecidos ainda para os estudiosos, situações cômicas e dramáticas, incluindo a invasão da censura, as cassações e as delegações que a levaram à decadência.
Também pela Editora Civilização Brasileira, Mário já lançou "Chico Nunes das alagoas" e "Nas rolanças do tempo, e promete para breve "Rabo da noite". Antes destes lançamentos, que tiveram grande aceitação da crítica e leitores, lançou, em 1948, "O Povo Escreve a história nas paredes" e, dezesseis anos depois, "1.º de abril, estória para História".
Em todos seus livros, mesmo os iniciais, ele demonstra uma linha constante, que demonstra haver nele a preocupação com a cultura popular brasileira. Preocupação está justificada pelo próprio autor com a tese de que a reformulação de nossa cultura só ocorrerá quando tivermos conhecimento do realmente popular, "para trazer para seu centro o povo, que foi posto à margem. Se o artista tem uma visão do mundo, deve procurar concorrer para modificar a realidade ou torná-la aceitável, na pior das hipóteses".
Segundo ele, não escreve, mas sim "converso com o tempo. Sou do tempo em que se concertava no Brasil". E nessas suas conversas com o tempo, ele deminstifica figuras como a de Roquete Pinto, pioneiro da rádio, "mas que foi contra o pagamento de direitos autorais aos compositores da músicas tocadas no rádio. Polemizo a figura de Leopoldo Fróes, Rui Barbosa, o Café Nice e a Lapa, no Rio de Janeiro".
Este seu novo livro "Bagaço de beira-estrada", em contuação as "conversas" mantidas em "Na rolança do tempo", Mário conta também" como o Estado Novo acabou com o carnaval, sob a alegação de que queria organizá-lo".
Apesar de receber inúmeros convites para trabalhar em teatro, Mário dedica-se atualmente apenas a tevê, justificando: "Faço a vontade das minhas coronárias". Se trata com bastante humor situação nem sempre boas pelas quais passou, vê com muita seriedade a situação do ator brasileiro na televisão, que segundo ele enfrenta o mesmo problema que o autor nacional. O primeiro enfrenta o enlatado estrangeiro, com todo um esquema publicitário que o tritura para ser digerido, o segundo é sufocado pelo "best-seller", o que é a mesma coisa.
Não hesita também em criticar a concentração de produção artística apenas no Rio e São Paulo. Para ele, os movimentos regionais morrem por falta de meios de divulgação, de amparo.
"É importante que as televisões e rádios tenham faixas destinadas à produção regional. Sem apoio, esses grupos só podem tender ao auto-extermínio". E é na defesa desta cultura popular que Mário Lago, hoje com 65 anos, baseou todo seu trabalho como radialista, compositor de inúmeros sucessos de nossa música popular, teatrólogo, escrito, homem de jornal e cinema.
FOTO LEGENDA- Mário Lago
Para os que desejam ampliar sua cultura, ou pelo menos seu vocabulário, um jornal de Curitiba deu uma boa oportunidade ao noticiar: "Começou a circular a primeira edição do "Paraná Columbófilo", informativo da Sociedade Columbófila de Curitiba, dirigido a columbófila e columbicultores do Paraná".
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