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Aramis

Confissões de quem faz o cinema de sexo explícito

Ninguém poderia imaginar que aquele garoto profundamente religioso, coroinha dos mais dedicados e que sonhava em se tornar, um dia, um monge trapista, viria a se transformar num cineasta, produtor e editor de revistas eróticas. Pois é: José Augusto Iwersem, 42 anos, curitibano da Rua Lamenha Lins, é hoje um dos profissionais mais requisitados na produção de revistas eróticas. Radicado em São Paulo vem ampliando cada vez mais sua linha de lançamentos. Historicamente, sem preconceitos, para quem pretenda entender um dia a história do cinema comercial no Brasil, Iwersem acaba de publicar uma básica edição especial da revista "Big Man International" (nº 35 A, 54 páginas, Cz$ 22,00), inteiramente dedicada aos bastidores dos filmes de sexo explícito produzidos na Boca do Lixo, em São Paulo. xxx A indústria pornográfica cresceu muito no Brasil nestes últimos 10 anos e um mínimo de dois a três filmes de sexo explícito são lançados mensalmente, com curta duração (saem liberados por força de mandato de segurança) mas ótima rentabilidade. São filmes rodados em estúdios improvisados, apartamentos de motéis e nos escritórios dos próprios produtores. De custo reduzidíssimo, rendem, entretanto, milhões de cruzados, pois só em Curitiba há três salas - Rui Barbosa, Scala e Morgenau - que funcionam exclusivamente com este tipo de material. Raramente os artistas (sic!) que atuam neste tipo de produção usam os nomes verdadeiros. Os "diretores" são quase sempre os mesmos - variando de José Mojica Marins (que no ano passado, como Zé do Caixão, impressionou até críticos internacionais) a Ody Fraga, este um cineasta intelectual e que, há 23 anos, passou vários meses em Curitiba, como um dos diretores de "O Diabo de Vila Velha", tumultuada produção de Nelson Teixeira Mendes que teve três outros diretores para conseguir ser concluído. Mesmo sem maior profundidade - tarefa que está a espera de um pesquisador com formação acadêmica (aliás, consta que já há uma tese universitária a respeito) Iwersem oferece nesta edição especial do "Big Man International" sobre o cinema pornô, entrevistas com atrizes, atores e mesmo diretores que se dedicam a realizar exclusivamente filmes de sexo explícito. As declarações são as mais cruas possíveis, com descrições detalhadas de como são produzidas as seqüências mais excitantes. Um dos cineastas (sic) entrevistados, Sady Baby, especialista em filmes de sexo de mulheres com animais, diz que um de seus projetos "é filmar uma transa de um gorila com uma garota". Explica também que o "melhor desempenho dos cachorros é conseguido quando se deixa o animal algumas horas sem se alimentar. Faminto, a excitação do cão é maior". Uma reportagem de quatro páginas é dedicada aos dois galãs mais requisitados para atuarem em filmes pornográficos: Silvio Pelicer Filho, 26 anos - o "Silvio Jr.", paulista de Rio Preto, que chegou a fazer nada menos que 32 filmes em um ano, e Oásis Miniti, 42 anos, 17 de cinema, e que desde 1981 quando atuou em "Boneca Cobiçada", de Laerte Calíquio e Rafael Rossi, só vem trabalhando em filmes de sexo explícito. Silvio Jr, e Miniti falam das dificuldades, muitas vezes de fazerem cenas de sexo defronte à equipe (e mesmo "bicões" que aparecem na hora das filmagens), o que leva "profissionais menos experientes" a impotência momentânea. Oásis Miniti já atuou em 48 longas-metragens de sexo explícito. Para ele, tudo é questão de ser autodidata. "Tudo se aprende na prática, mas é necessário, antes de mais nada, estar com o corpo em plena forma pois o sexo é 90% físico e 5% psíquico. Portanto, o segredo reside em não fumar, não beber, não usar drogas e dormir cedo". Graças a esses "mandamentos", seguidos regularmente, e ao "aprimoramento" obtido diante das câmeras, Oásis diz que hoje é capaz de transar e tocar piano ao mesmo tempo. - "Minha fama, inclusive, já se tornou internacional. Recentemente viajei até Milão, onde contracenando com fogosas atrizes italianas, fiz o explícito "A Verdadeira História Da Monja De Monza". As musas (?) dos filmes de sexo explícito ganham, naturalmente, páginas coloridas nesta edição especial de "Big Man International". Duas delas são Sandra Midori e Rosari Braga, que aparecem em filmes como "Sexo Com Chantily", "Sexo Dos Anormais" e "Hospital Da Corrupção E Dos Prazeres", este um escatológico filme dirigido por Rajá de Aragão (?) - em exibição no Glória II (programa duplo, sessões corridas) que traz seqüências de sexo entre cenas de matadouro, numa concepção "visual" que leva o espectador não à excitação, mas ao vômito. Outra atriz entrevistada é Andréa Pucci, que começou com "A Mansão Do Sexo Explícito", 1984, de Henrique Borges, e não parou mais de fazer filmes do gênero. Argentina, ex-estudante de Filosofia em Buenos Aires, há 5 anos no Brasil. Exigente (por exemplo, obriga que os atores que com ela "contracenem" tomem banho com água gelada antes das cenas mais íntimas), Andréa Pucci diz que é muito difícil as atrizes de produções pornográficas alcançarem o orgasmo durante as filmagens, "em termos de satisfação". - "Eu, por exemplo, atinjo o orgasmo muito rapidamente numa transa normal. Mas no cinema é quase impossível. Os "takes" são muito rápidos, três a quatro minutos, no máximo. Logo entra o diretor gritando "corta". Aliás, os diretores com raras exceções, são todos uns frustrados. Eles e os produtores odeiam as mulheres".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
08/03/1987

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