A Cidade & O Tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de setembro de 1974
Efetuando um levantamento histórico sobre um aspecto até hoje não pesquisado do progresso urbano da cidade - o calçamento das primeiras ruas da lamacenta Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, o universitário Rafael Valdomiro Greca de Macedo, 18 anos, primeiranista de engenharia, publicará num dos próximos números do Boletim da Fundação Cultural - a ser lançado paralelamente a uma mostra fotográfica na Casa Romário Martins, um estudo sobre o calçamento de Curitiba, com interessantes observações.
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A primeira rua de Curitiba a receber um primitivo calçamento foi a rua Fechada (hoje José Bonifácio): pedras em formas de lajes, assentadas e dispostas que desciam de ambos os lados para o centro da via pública, com declividade suficiente para dar escoamento às águas abundantes que por ali desciam em enxurrada. As outras ruas da cidade sob as chuvas de inverno - principalmente em janeiro, transformavam-se em verdadeiros pantanais, em especial na parte mais baixa da cidade - o Largo do Chafariz, hoje Praça Zacarias - no século XIX e primeiras décadas do século XX um imenso brejo.
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Uma família de italianos - os irmãos Vincenzo, Giuseppe, Francesco e Luigi Greca, chegada em 1890, foi a pioneira no calçamento de Curitiba. Estabelecidos nas imediações da então rua do Lavapés, eles começaram com as pedreiras das fraldas da serra (marmoré) e dos barrancos do tanque do São Lourenço (paralelepípedos) um trabalho que tornaria a cidade digna das luzes do progresso do novo século, eliminando as sobras, os caldeirões e os encharcados, que eram horror dos povos de mil e oitocentos.
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Sucedendo ao pioneirismo de seu pai, Francisco (1820-1914) o [primogênito] Raphael (1877-1954), começou a trabalhar em calçamentos das ruas, ao lado dos irmãos e um primo, Carmelo, desde o final do século passado, mas a partir de 1914, desenvolveu os trabalhos, sendo responsável pela maior parte dos calçamentos de nossas ruas, tendo a sensibilidade de, muitas vezes, recorrer a artistas como João R[.] Turin ([1880]-1949) Zacco Paraná e Erbo Stenzel para a criação dos desenhos de muitas de nossas calçadas - até hoje resistindo ao tempo.
Quase 100 anos de um trabalho honesto e importante para a cidade, serão agora lembrados na documental exposição e pesquisa organizada por Raphael Valdomiro Greca de Macedo, neto do pioneiro.
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