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Aramis

A cantora do coração & o poeta do povo

Quando na segunda vez que entra no palco, dando (seqüência( ao show musical com o qual se encerra o Projeto Pixinguinha - edição 77, Marília Medalha leva o público a vários minutos de aplausos após cantar "Ponteio", de Edu Lobo/Capinam, por ela defendida no Festival de MPB da Record, há 10 anos. Em seguida, "Tiradentes" (Chico Assis/Ary Toledo) é intercalada de um depoimento, onde fala das razões que a fizeram se afastar um pouco dos palcos, entre 68/70, até o encontro com Vinícius e Toquinho, com quem esteve em Buenos Aires - vindo depois, exatamente a 27 de dezembro de 71, inaugurar o Teatro do Paiol. E, praticamente declamando a bela (música( - intercalada de um depoimento sofridamente sincero, mostra toda sua sensibilidade de atriz - condição na qual estreou profissionalmente 1965, na primeira montagem de "Arena Conta Zumbi", em São Paulo. Marília Medalha, 33 anos, 12 de vida artística profissional, cinco elepê. Uma cantora brasileira de raça e sentimento, também, compositora - tendo como parceiros poetas da sensibilidade de Vinícius ou Roberto Faro, é o exemplo da artista que não aceita o consumismo fácil, as badalações promocionais e que por isso, nos últimos anos, tem estado um pouco afastada. Retorna agora aos palcos, ao lado de um dos mais importantes compositores - Zé Keti (José Flores), um poeta e cantor do povo, que desde 1946 vem fazendo sambas inteligentes, de letras substanciosas, atuais. Um autêntico fotógrafo das coisas de seu tempo e de seu povo, capaz de criar músicas de emoção de "Máscara Negra" (sucesso no carnaval de 1967) ou "Mascarada" (parceria com (Elton Medeiros). Reunir Marília e Zé Keti no palco, no encerramento do Projeto Pixinguinha foi, realmente, no encerramento do Projeto Pixinguinha foi, realmente, uma idéia feliz. O grande repertório de Zé Keti - com músicas que todo o Brasil conhece como "Diz Que Fui Por (Aí(", "Acender As Velas", "Opinião", "Nega Dina", "Malvadez Durão" - lançadas por Nara Leão, uma das primeiras cantoras da Zona Sul a descobrir a sua riqueza e atividade ganha muito em suas próprias interpretações. São sambas que falam do povo brasileiro, de suas tristezas, alegrias, personagens e situações que tem nele o retratista que não procura enfeitar o flagrante - oferecendo uma imagem ao natural - e que por isso resiste ao tempo e aos modismos. Zé Keti é um compositor brasileiro, com sua linha, seu estilo, sua personalidade e coragem. Tem, dentro de suas características, a mesma importância de um Cartola e de um Nelson Cavaquinho. Bons instrumentistas - como Murilo na bateria, Hajine no baixo, Miguel no piano, Roque no cavaquinho, Antenor no violão e Jair Ribeiro na percussão sabem dar o clima exato a cada interpretação - do intimismo camerístico de "Se o Amor Pudesse", uma das muitas felizes parcerias de Marília e Vinícius, ao toque verde-amarelo de "A Voz do Morro", que Zé (Keti( fez em 1954 e que emoldurou as imagens do filme - marco do Cinema Novo, "Rio 40 Graus" de Nelson Pereira dos Santos, onde o bom Keti aparecia também como ator. Vale a pena, sem dúvida nenhuma, assistir Zé Keti e Marilia Medalha no Guaíra, hoje e amanhã. Um grande final para o evento mais importante ocorrido no campo da música popular brasileira em 77 - o Projeto Pixinguinha. LEGENDA FOTO - Zé Keti e Marília
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
10/11/1977

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