Bolona, de Minas para o mundo (mas ainda inédito entre nós)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de julho de 1987
O Brasil é tão grande e rico musicalmente que fora de esquema das grandes fábricas, que dispõe de estruturas nacionais para promoção, há dezenas de talentos que, a custa de suor e sacrifícios pessoais, fazem belos elepês independentes mas que, infelizmente, não passam das fronteiras regionais.
Por exemplo, em Minas Gerais há uma geração de compositores e intérpretes do maior talento e compositores-intépretes do Paraná, mesmo os que já gravaram discos, não chegam as Alterosas.
Carlos Felipe, jornalista, pesquisador, disc-review do "Estado de Minas", presidente da Comissão Estadual de Folclore e dono de um acervo fabuloso em discos, recortes, livros, revistas e fotos ligadas a música e cinema, tem procurado divulgar a produção musical mineira, que, infelizmente ainda não chegou ao Paraná. Por exemplo, Paulinho Pedra Azul, após um elepê na RCA, decepcionou-se com as multinacionais e passou a dirigir sua carreira de forma autônoma e hoje tem um esquema fantástico de show e já fez três ótimos elepês independentes. Outro compositor mineiro que tem um curriculum notável é Célio Bolona, que ao lançar seu novo elepê ("Vôo Noturno"), produziu um belíssimo espetáculo (Palácio das Artes, 12 e 13 de maio), que entusiasmou os críticos rigorosos, como Zuza Homem de Melo, da Jovem Pan, hoje um dos grandes divulgadores de sua obra.
Como o gaúcho Geraldo Flach, também pianista e compositor que faz seus discos de forma independente, Bolona desenvolve trabalho dos mais sérios, que já levou ao Japão (1977 Electone Festival Worldwide, patrocinado pela Yamaha), França (Festival Brésilien, Nice, 18 a 28 de julho de 1984), Marbella e Nova Iorque, entre outros locais - sempre com enorme sucesso.
Mineiro de Visconde do Rio Branco, 44 anos, com uma formação musical eclética, Célio Bolona é um instrumentista da maior segurança, que pilotando muitos teclados mostra um som absolutamente fascinante, como mostra neste "Vôo Noturno", seu segundo elepê - trabalho de maior maturidade e no qual desenvolveu um trabalho pessoal, com composições próprias da dimensão de "Nissei", "Dama da Noite", "Ginga", "Noturno", "Trem do Norte", "Tudo de Mim" e "Mistiça".
Trata-se, basicamente, de um disco de autor pois Célio supervisionou toda a produção, fez os arranjos, executa diferentes teclados e embora tenha convocado em algumas faixas bons instrumentistas - como Jairo Lara, sax-soprano em "Tudo de Mim", a viola caipira de José Eduardo em "Trem do Norte", o baixista Gilberto Diniz em "Ginga", fez uma obra que vai da pureza e simplicidade do Interior de Minas a homenagem a Ravi Shankar e ao grupo Uakti em "mística".
Célio Bolona é exemplo de criador musical, sério, estudioso e competente - que sem deixar sua Belo Horizonte (onde é conhecido e respeitado), faz uma música de comunicação mundial, como seguramente, entre os melhores do ano e só é lamentável que o disco não chegue as nossas lojas (interessados podem solicitarem a Clave Promoções, Rua Aimorés, 1297, sala 506 - CEP 00.140, Belo Horizonte - fone: 224-0263). Também uma pena que inexista entidades culturais no Paraná, com gente competente para entender a importância que seria estabelecer condições para que músicos da dimensão de Célio viessem mostrar seu som entre nós - abrindo um intercâmbio que poderia levar também nosso artistas a Minas Gerais. Aliás, a bela e atuante Patrícia Deffes, do escritório regional da Funarte, está, idealisticamente, tentando fazer com que o Sesc da Esquina seja um espaço para a boa música popular - como o Paiol foi no passado.
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