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Aramis

Boca no Trombone com o som bem brasileiro

A temporada dos grupos Paranga e Blindagem abrindo o projeto "Boca no Trombone", promovido pela Lira Paulistana (Teatro do Paiol, hoje a domingo) é significativo por vários aspectos. De principio, por devolver ao teatro municipal uma programação musical ativa, já que devido a discutíveis critérios da atual administração da Fundação Cultural, aquele espaço cultural estava às moscas desde março último. No momento cm que o jornalista Fernando Alexandre, agitador cultural de alta voltagem e um dos dirigentes do Lira Paulistana, elaborou o projeto para trazer a Curitiba uma série de conjuntos, intérpretes e instrumentistas da nova geração, em apresentações divididas com artistas da terra, o paralisado movimento artístico local é saudavelmente revitalizado. Afinal, o Lira Paulistano, um miniteatro de bairro, sem qualquer ajuda oficial, é há três anos um dos centros de produção cultural em São Paulo, estimulando novos artistas lançando autores, editando livros (após a experiência de publicar um jornal semanal por mais de um ano) e, desde o início do ano, associado a Continental, para industrialização e comercialização em escala nacional dos discos até então produzidos independentemente. Graças a isto, a Continental, uma das únicas indústrias fonográficas formada exclusivamente por capital nacional, está readquirindo prestígio, com um catálogo de alto nível - e ao qual acrescentará edições produzidas originalmente por outras instituições - da Fundação Cultural de Curitiba (os discos da Camerata Antiga, o álbum duplo de Marinho Galera/Paulo Vitola) a Funarte. Outro aspecto que dá uma especial importância a apresentação que abre o projeto "Boca no Trombone" é o fato de trazer um conjunto vocal-instrumental que, da forma mais honesta possível, se voltou aos valores brasileiros: o Paranga, formado por quatro irmãos, filhos do compositor Elpidio Santos, da cidade de São Luis do Piraitinga, interior de São Paulo - ao qual se somaram outros jovens. talentos. Elpidio Santos, falecido há poucos anos, foi compositor de muitas canções popularizadas nos filmes de Mazzaroppi. Pequena cidade do Vale do Paraíba, antiga, quase colonial, carinhosamente chamada de "Paranga" (assim como Caetano Velloso apelidou São Paulo de "Sampa"), é o local de preservação de ritmos como congadas, moçambiques, danças das fitas, catirás, dança dos balaios, etc. Os quatro filhos do velho Elpídio - "Pio", Maria Cinira ("Nena"), Maria Aparecida ("Parê") e Pedro Luiz ("Negão"), aprenderam a cultivar estes ritmos puros - numa identidade com os três outros jovens. que se integraram ao grupo - Alvaro Frade Jr ("Vão"), Alvaro José Frade ("Nhô") e Renata Marques Luis (naturalmente, houve informações de outras linhas. musicais - da Bossa Nova aos Beaties/Pop, mas basicamente se mantiveram fiéis a uma brasilidade, cultivada nestes 12 anos de existência do grupo. Há quatro anos, num festival cm Taubaté, conheceram o compositor Renato Teixeira - outro apaixonado pela música de raízes, que os levou a São Paulo, para gravarem um compacto na extinta Bandeirantes Discos, com uma música classificada nas eliminatórias da MPB-80. Depois conheceram o grupo chileno "Água" e, apaixonados pelo latinismo, acabaram participando de um festival em "Para-Raymi", em Cuzco, Peru. A gravação do primeiro elepê ("Chora Viola, Canta Coração"), com cinco faixas de autoria de Elpidio dos Santos e de outros antigos e novos compositores da região (Luiz Amáncio de Carvalho, Marco Rio Branco e Benedito Ribeiro), além de composições do próprio grupo, deu ao Paranga condições de atingir novas faixas de público. A exemplo do excelente Corda e Voz, formado por Alvaro, Mazzini, Arnaldo Júnior, funcionários do Senac em Aratuba e Presidente Prudente, que também se dedicam a cultivar a música de raízes (e que fizeram um excelente elepê no Estúdio Eldorado), o Paranga se insere numa linha de intérpretes jovens que mostram a beleza da música não urbana -imerecidamente discriminada pelos veículos de divulgação durante anos. Hoje, com o "Som Brasil" de Rolando Boldrin abrindo novas fronteiras, com eventos valorizando a música regional e compositores-interpretes como Renato Teixeira, Almir Satter, Sérgio Reis, e tantos outros se voltando a um repertório que inclui mestres como Raul Torres, João Pacifico, Tonico & Tinoco, Capitão Furtado etc., se vê o público jovem descobrir que nem só de elétricos e supérfluos som pop, alienígena, vive a música. Tanto é que o grupo Blindagem, de Curitiba (ex-Continental, agora contratado da Pointer), que divide o show do Paiol com o Paranga, também está reciclando seus valores estéticos-musicais e procurando ser um pouco mais brasileiro. LEGENDA FOTO - Paranga: música de raízes no Paiol
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
12
22/09/1983

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