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Aramis

Alerta nuclear, um cinema de utilidade

Filmes como "Chuva Negra - A Coragem de uma Raça" - na abordagem que faz sobre a maior tragédia de todos os tempos (a destruição de duas cidades e milhares de pessoas com a bomba atômica) mais do que nunca devem ser vistos e discutidos. A corrida nuclear a partir de 1945 - e que somente ampliou-se neste meio século de insanidade - tem merecido algumas reflexões profundas e importantes, embora, por sua própria dimensão, tudo que se faça para chamar atenção em torno da questão seja pouco. Durante o último Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, ainda sob o impacto de "Césio 137", o documentário-drama sobre a tragédia sofrida em outubro de 1987, em Goiânia - falávamos com o cineasta baiano, Roberto Pires, 56 anos, diretor daquele excelente filme (ainda inédito comercialmente em praticamente todo o país, exceto Goiás e Brasília), sobre a importância de ser promovido uma mostra agrupando outros filmes (e agora vídeos) que abordam a temática do perigo nuclear. Afinal, na contundências das imagens - seja mostrando como a ignorância de um grupo de pessoas humildes pode provocar a contaminação de toda uma comunidade como aconteceu em Goiânia (e que "Césio 137" tão exemplarmente mostra) ou num modesto vídeo como "Pedra Podre", realizado por um grupo de jovens ecologistas - denunciando a falta de segurança das Usinas Nucleares Angra I / Angra II - valem mais do que mil manifestos e discursos. A estes documentos de nosso tempo - ambos ainda inéditos em Curitiba (o vídeo "Pedra Podre" dificilmente será visto pelo público, já que inexiste uma sala especializada em nossa cidade), acrescenta-se agora "Chuva Negra - A Coragem de uma Raça", que como bem disse o amigo e colega Antônio Gonçalves Filho, é o melhor filme de Imamura, entre os 15 que realizou em seus 32 anos de carreira (entre os quais o premiado "A Balada de Narayama", que levou a Palma de Ouro em Cannes-1985). "Concentrando seus esforços em torno do núcleo familiar, Imamura ampliou a dimensão do drama cotidiano de conviver com a destruição lenta dos tecidos pelo câncer físico - num sentido metafórico-gregário". Assim, bem disse na "Folha de São Paulo", "primeiro, os sobreviventes morrem socialmente, porque nada se sabe das doenças que podem ser desenvolvidas pelos expostos à radiação. É mais ou menos como ser, hoje, portador da Aids. Segundo, o corpo social também entra em colapso, porque crenças e costumes sofrem inevitáveis alterações com as catástrofes". Se "Bem Vindos ao Paraíso" é um filme-reflexão sobre um pecado americano, "Black Rain - A Coragem de uma Raça" é um exemplo maior daquilo que chamamos de cinema de utilidade pública. Perante o qual, qualquer restrição de ordem estética, desaparece. INDISPENSÁVEL DE SER VISTO POR QUEM NÃO BUSCA APENAS O DIVERTIMENTO NO CINEMA.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
27/02/1991

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