Não será por falta de títulos que o mercado de vídeo perecerá. Ao contrário, as opções são tantas que as locadoras estão cada vez mais indecisas para saber o que comprar para oferecer a clientela. Razão pela qual os comerciantes, nem sempre intelectualmente preparados para esta área, estão recorrendo aos chamados "consultores", cinemaníacos ferozes, que julgando-se conhecedores do mercado fazem as indicações que possibilitam maior retorno do capital investido - em média Cz$ 5 mil por unidade. Só na I Vídeo Trade Show (Parque Anhembi, 4 a 9 de março), foram lançados cerca de 250 títulos - o que, ao preço médio de Cz$ 4 mil cada (considerando os descontos oferecidos) exigiria nada menos que um milhão de cruzados de cada locadora para adquirir todas as novidades. Evidentemente que nenhum empresário fez isto, preferindo os títulos que oferecem maior retorno. Assim, em alguns stands, as vendas foram imensas - enquanto em outros houve casos de títulos que praticamente não tiveram um único pedido. Extra-oficialmente, fala-se que algumas distribuidoras fazem certos lançamentos cientes deste "hara-kiri" comercial, mas apenas como "descarga" - e preferindo, ainda muito clandestinamente, tentar o mercado pirata - que continua a existir, como diz o jornalista Luiz Carlos Franco, editor da revista "Vídeo Business" e assessor de imprensa do Trade Vídeo: - E o mercado negro do dólar alguém consegue acabar? O importante é que o vídeo se solidifique, adquira credibilidade. Entre as empresas que melhor vem trabalhando em termos de lançamentos - sabendo alternar qualidade com títulos atraentes para o público, está a Pole Vídeo, de Maurício Goldberg. Por exemplo, aproveitando toda a promoção que a relações públicas Rose Carvalho deu ao filme "Sonho de Valsa", de Ana Carolina (em exibição no Rio/São Paulo, breve estréia em Curitiba), a Pole está lançando este título, junto com os outros filmes da mesma diretoria que completam sua trilogia: "Mar de Rosas" e "Das Tripas Coração". A visão de "Sonho de Valsa" - que representou o Brasil no último FestRio - faz com que, naturalmente, o público mais interessado queira ver outros dois filmes da mesma cineasta e, em boa hora, a Pole coloca-os no mercado. Assim como lançou - conforme aqui registramos, em primeira mão, há meses - os filmes de Walter Lima Júnior, um dos mais criativos cineastas brasileiros: "A Lira do Delírio", cult-movie em sua obra, pouco visto nas telas; o musical tropicalista "Brasil Ano 2000", com músicas de Caetano, Gil e Tomze; o inédito (nos cinemas) "Na Boca da Noite", da peça "O Assalto", de José Vicente e o drama histórico "Joana Angélica", com Maria Fernanda no papel título, realizado já para televisão, premiado num festival de filmes de TV realizado em Curitiba - e que só agora pode ser conhecido. A Pole também está lançando quatro filmes de Flávio Tambellini (Batatais, SP-1927-SP-1976), que foi também crítico e um dos idealizadores do Instituto Nacional do Cinema. Realizou cinco longa-metragens e foi ainda produtor e roteirista de "Ravina" (1958), cuja direção deixou para seu amigo Rubens Biáfora. Nos filmes de Tambellini a câmara estava sempre colocada no lugar certo, a iluminação era impecável. Os intérpretes atuavam sob visível controle do diretor, os diálogos procuravam o uso mais correto da língua portuguesa. Em 1970, passou vários meses em Curitiba, aqui rodando um dos episódios de "Um Uísque Antes... Um Cigarro Depois", com Geraldo Del Rey, Ary Fontoura e Neyla Tavares. De Tambellini, a Pole Vídeo está lançando "O Beijo", 1964, da peça de Nelson Rodrigues; com Reginaldo Farias, Norma Blum, Nelly Martins, Betty Faria, Fregolente e Glauce Rocha; "Até que o Casamento nos Separe", 68, da comédia "Os Pais Abstratos", de Pedro Bloch, com Vera Barreto Leite (irmã de Dudu, ex-atriz, hoje criadora de coelhos no município de Piraquara) e Mário Benvenutti; "Um Uísque Antes... Um Cigarro Depois" e "Relatório de um Homem Casado", 1974, seu penúltimo filme, baseado em conto de Rubem Fonseca (a mesma parceria repetiu-se em "A Extorsão", seu último filme). O filho de Tambellini, Flávio Jr., também é cineasta, tendo estreado com o premiado documentário sobre Tim Maia, exibido em Curitiba, durante a I Mostra do Cinema Latino-Americano. (Cine Lido, outubro/87). LEGENDA FOTO 1 - Abertura da I Vídeo Trade Show, no Anhembi, em São Paulo, na noite de sexta-feira, 4 de março. O evento ultrapassou as expectativas de seu idealizador, Cyro Del Nero (à direita). LEGENDA FOTO 2 - O stand da Playboy Vídeo, com atraentes "Coelhinhas", foi dos mais visitados na I Vídeo Trade Show (foto Paulo Minoru Ochai).

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Nenhum

Página: 23

Data: 13/03/1988

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